Geograficamente falando, sabemos que o Brasil é um país (lê-se único) dividido em cinco pedaços (lê-se regiões) e tem o português como idioma. Pode até ser, mas na prática não é bem assim. Ah, me chamem de louca ou de qualquer outro nome, mas, depois de lerem esta história, vão concordar comigo. Eu, uma nordestina, pernambucana, recifense, mais especificamente, fui passar alguns dias de folga em São Paulo, na capital mesmo. Durante esse passeio, descobri que não falo português, mas sim o “pernambuquês”. Não, não é preconceito linguístico (que aprendi a não ter na faculdade), muito menos preconceito regional. Descobri que moro num “continente” chamado Brasil, onde tem um “país” Nordeste. É lá que existe o estado de Pernambuco e sua capital, Recife, onde se fala a tal língua.
Certo dia, estava saindo do Terraço Itália (onde se tem uma bela vista de São Paulo), no Edifício Itália, pagando de turista com minha companheira de viagem, para ir até o Teatro Municipal. Sem termos ideia da nossa localização (mesmo depois de ter visto a cidade inteira lá do 41º andar), resolvemos perguntar ao segurança do prédio como chegaríamos lá.
- Teatro Municipal... hum... Você
contoRna o edifício e segue em frente. No segundo
farol, dobre a
esqueRda e continue em frente. – explicou o segurança simpático.
- Ah, entendi.
Arrudeio aqui e, no
sinal, dobro, né? – indaguei na tentativa de confirmar meu entendimento.
- É, acho que é isso... – confirmou o segurança com a cara de “não entendi nada o que ela falou”.
Agora, pagando de gatinha na balada, o meu “pernambuquês” acabou me denunciando no meio de tantos locais. Enquanto dançava um bom samba rock, um paulista apareceu e começou com os trabalhos. Depois de muito blá-blá-blá, a água mole em pedra dura não furou. Ele acabou desistindo de mim (graças!). Horas se passaram e, já na hora de “pegar o beco”, a tal figura me aparece de novo, depois de ter passado a noite com loiras, morenas, ruivas... (acho que ele jurava estar subindo e descendo as ladeiras de Olinda no Carnaval).
- Lembro de você! Espera... deixa eu lembrar... – falou o paulista mais afogado que pedra de gelo num copo de whisky.
- É, lembra? – perguntei olhando para cara dele, esperando lembrar porque se lembrava de mim.
- Lembrei! Lembro porque você me deu o melhor beijo da noite! – comemorou.
- Cara, você está MUITO doido, porque, em momento algum da noite, te beijei. – comentei dando altas gargalhadas.
Ficamos alguns segundos discutindo a questão: “te beijei ou não te beijei” (mais parece nome de bloco de Carnaval). Ele insistia que sim e eu, claro, que não. Acabei ganhando no debate, mas a consciência dele veio à tona:
- Eu me lembro de você sim! Porque ouvi você falar
“oxente” uma vez. Você é pernambucana! – afirmou o paulista com toda a certeza.
- É, sou! – confirmei um pouco sem graça.
- Sabia que me lembrava de você!
Ah, mas o meu “pernambuquês” é dos estrangeiros mesmo. Fazendo compras na feira da Liberdade, um tio com cara de chinês, japonês, sei lá, de oriental me veio com a melhor de todas. Conversava com ele sobre os preços de uns chinelos e percebi que me olhava com uma cara estranha, tentando entender o que eu falava.
- Desculpe, mas a senhorita é daqui? – perguntou o tio fazendo uma careta.
- Não. – respondi.
- Ah, é turista! Por acaso, é portuguesa? – perguntou ele fazendo careta de novo.
- Não. – respondi dando uma risada discreta.
- Então, é espanhola? – perguntou o tio com a cara de que “ainda descubro esse enigma”.
- Também não. – respondi gargalhando.
- A senhorita é de onde, afinal? – perguntou desesperadamente.
- Sou do Recife, Pernambuco, lá do Nordeste. – enfim, acabei com a agonia do tio.
- Ah, que legal! Desculpe, é que não estava entendendo direito o que a senhorita falava. – respirou ele aliviado.
Obs.: Este texto foi escrito apenas para lembrar que, apesar de sermos uma única nação e de vivermos no mesmo país, temos culturas diferentes. É o que torna o Brasil um país rico multiculturalmente falando e uma referência para tantos outros. Favor, deixe os preconceitos linguístico e regional de lado, ok? =)
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