24 de novembro de 2010

Uma “analfabeta tecnológica”

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Durante um almoço com colegas de trabalho, comecei a refletir uma questão: “será que estamos preparados para viver numa sociedade moderna e tecnológica, em que (quase) tudo pode ser resolvido com apenas alguns cliques, ou melhor, alguns toques?” Quando soube que o Brasil já tem mais celulares do que habitantes, me assustei. Todo dia sou surpreendida por novas ferramentas tecnológicas, como smartphones, iPhones, netbooks, televisões cada vez mais finas, internets que tentam ser mais rápidas, redes sociais, enfim. Há dez anos, quem imaginaria que usaríamos tais utensílios? Mas será mesmo que já podemos dizer que fazemos parte desse mundo... tecnológico?

Voltando à reflexão do almoço, solicitei ao garçom a máquina da bandeira do meu cartão para fazer o pagamento no débito. Ele começou o processo e, distraída de início, não havia percebido que estava demorando a passar o cartão, digitar alguns números e pronto. Uma ação de apenas alguns segundos, a depender da conexão entre a máquina e a operadora. Quando percebi, o garçom estava totalmente enrolado para efetuar o pagamento, coitado. A máquina do cartão mais parecia um labirinto sem saída, em que ele andava, andava e não chegava a lugar algum. Foi quando o gerente, acredito, se aproximou e começou a orientá-lo, como um professor que ensina o aluno na alfabetização, detalhe por detalhe o “ABC” tecnológico daquela ferramenta.


Ok, parecia que ele estava começando hoje e era um treinamento. Depois, mesmo assim, pensei: “minha nossa, qual a dificuldade de usar essa maquininha? Não há mistério algum: coloca o cartão no local específico do chip e automaticamente a máquina faz as perguntas de ‘débito ou crédito’, ‘à vista ou parcelado’, ‘valor’ e ‘senha’”. Foi ai que pequei em julgar a capacidade daquele rapaz, pois o comparei comigo, que pensava ser a "pós-graduada da tecnologia". Depois do fato, lembrei que aconteceu comigo praticamente a mesma coisa, quando me senti uma "analfabeta tecnológica"!

Na minha primeira viagem a Lisboa (Portugal), um amigo luso me levou a uma grande rede de supermercados para comprar um bom vinho e azeite portugueses. Assim como aqui, fui à fila de pequenas compras para efetuar o pagamento dos produtos. O susto: não havia caixas (lê-se funcionários), apenas os computadores, ou seja, tinha de efetuar tudo sozinha. Comecei a ficar nervosa na fila e pedi ao meu amigo português para me ajudar a manusear a tal máquina.

- É simples, Rafa. A máquina é bem didática. Basta passar os produtos e efetuar o pagamento. – disse meu amigo tentando me acalmar.
- E é? Do jeito que sou, vou me enrolar toda e o povo vai reclamar na fila. Vergonha da minha pessoa. Você vai me ajudar sim!


Chegou a minha vez. Comecei a ficar mais nervosa ainda. Mãos suadas e tremendo. Passei os produtos na máquina e, de fato, era didática. Chegou a hora do pagamento, o medo: como é que funciona? Não vou pagar no cartão. É preciso ter o dinheiro contado? O meu amigo luso só fazia rir da minha cara, e com razão, claro! Uma pessoa com certa “alfabetização tecnológica” ficar tão nervosa com uma simples máquina. Arrependo-me de, até hoje, não ter registrado esse momento ridiculamente tosco! Então, fiz o pagamento em dinheiro e coloquei as cédulas no local que a máquina indicava.

- Coloquei um valor bem maior. O troco vem certinho? – questionei (trauma do jeitinho brasileiro na versão do mal) ao meu amigo.
- Claro que sim. Se a máquina não tiver, ela avisa e uma pessoa vem aqui recolocar o dinheiro para o troco ser liberado.

Gente, para mim, foi a coisa mais surpreendente e espetacular da máquina ter “cuspido” as cédulas e moedas no valor do troco correto. Parecia uma criança que acabou de descobrir que a luz da geladeira se apaga quando a porta fecha!

- NOOOOOSSA! Hum... não sei se isso no Brasil daria certo. Bom, pelo menos no início...

Resumindo, ainda estamos no processo de “alfabetização tecnológica” que, infelizmente, não é acessível a todos. E mais infelizmente ainda é que a tecnologia está se atualizando cada vez mais rápido e ainda não estamos conseguindo alcançá-la...

2 de novembro de 2010

E Dilma me levantou...

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31 de outubro de 2010, dia em que o Brasil elegeu, pela primeira vez, uma mulher como presidente. Uma data que ficará marcada na história. Fiquei feliz por ter sido testemunha e feito parte desse pioneirismo. Não vou e nem quero usar esse espaço para ficar falando de política, coisa que gosto. Entretanto, é um dos temas que constam na minha lista de veto a discussões (acredito que de muita gente também): política, religião, futebol e cultura. Mas... sim, é verdade que vim falar da eleita presidenta/presidente Dilma Rousseff. Vim falar de alguns momentos em que tive a oportunidade de, como repórter, entrevistá-la nas diversas vezes em que ela veio ao meu querido Pernambuco.

Não vou mentir que ela tinha uma fama de mulher sisuda, de personalidade forte, rígida e “mão de ferro”, como muitos a chamaram, quando ela assumiu, pela primeira vez o cargo de ministra-chefe da Casa Civil. Acredito que até hoje. Lembro de uma reunião em que o presidente Lula e os governadores do Nordeste (salvo engano) estiveram presentes no Palácio Campo das Princesas, sede do governo estadual. Dilma estava lá, para apresentar um balanço do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Nós, os repórteres, assistimos o encontro em uma sala a parte, a maioria sentada no chão, por uma TV LCD.


Foi desesperador quando vimos Dilma pegar um calhamaço de papel encadernado, abaixar os óculos e começar a falar, depois de algumas horas de reunião. Com uma voz firme e fria, ela explicou todos os números e os repórteres, cada um, “pedindo penico”, pois foi mais de uma hora de apresentação. E ai do técnico que estava manejando o computador colocasse a transparência errada. De fato, foi uma experiência não muito agradável.

Mas, certo dia, conheci uma outra Dilma de perto, bem de perto. Uma “mão de ferro” mais sensível e atenciosa. Como repórter de economia, o jornal me mandou para o lançamento de uma das etapas de construção da Refinaria Abreu e Lima, no Porto de Suape. Detalhe, por motivos inexplicáveis e macabros, o danado do evento foi à noite (!). Assim como outros repórteres que estiveram presentes, ficamos horas esperando e muitos cansados, pois o tempo passava e o deadline (lê-se prazo final) do jornal não esperava por isso. O nervosismo começou a reinar entre nós, transformando o relógio nosso inimigo.

Eis que Dilma chega. Fala seu discurso, assim como outras autoridades presentes. O melhor momento é o da coletiva improvisada, onde todos os microfones querem “engolir” o entrevistado e os câmeras e fotógrafos lutam pelo melhor ângulo. Dei bobeira e perdi meu pequeno espaço para por o gravador. A então ministra estava cercada. Tentei esticar meu braço entre tantos outros, mas logo cansava de tão espremida que estava. Enquanto isso, eu tentava encontrar qualquer que fosse a brecha para ficar mais próxima e fazer a minha pergunta.




Entre umas pernas e outras, encontro uma alternativa. Havia um vácuo entre Dilma, os microfones e os repórteres. Pois é, podem acreditar. A maluca aqui se enfiou por debaixo das pernas de todos ali e ficou ajoelhada na frente da futura presidente do Brasil, apenas para gravar o que falava e poder lhe fazer uma pergunta. No meio de diversas perguntas, a vejo olhar para mim aos seus pés e dar um sorriso discreto. Enfim, consigo fazer minha pergunta. Todos os microfones se voltam para mim, embaixo, e Dilma responde sorrindo:

- Por favor, levante-se. Não vou responder a sua pergunta assim. – falou ela me ajudando a levantar pelos braços e me colocando na frente de todas as câmeras, microfones e tantos outros gravadores.

Todos ali presentes riram da situação, inclusive eu que a agradeci por ter me respondido e me ajudado a levantar. Enfim, consegui minha matéria e fui digitá-la para sair no dia seguinte.




Por essas e outras, desejo boa sorte a mais nova presidente/presidenta do Brasil. Que ela consiga penalizar e corrigir os erros cometidos com sua “mão de ferro”, mas que também melhore ainda mais esse Brasil de meu deus com a mesma sensibilidade e atenção que teve para com a minha pessoa naquele maluco dia de repórter! Boa sorte, Dilma! _o/