6 de abril de 2010

Uma louca em minha vida espanhola I

Dia desses, relembrei, com uma amiga, um episódio que aconteceu comigo quando fiz uma viagem para Madri (Espanha) por um mês para estudar español. O assunto principal pode parecer um choque entre culturas bastante diferentes, mas, na verdade, tem relação com perturbação do juízo mesmo. Durante minha estadia na ciudad castellana, fiquei na residência de uma senhora que chamarei de Mari, com seus, acredito, 65 anos de experiência. Quando li a descrição da casa da mujer mayor que a escola de intercâmbio me passou achei bastante intrigante. Dizia que o local lembrava um museu, com peças antigas que colecionava de décadas anteriores. Já comecei a ficar com medo do que encontraria.

Soube por minha hermanita mayor española que o bairro onde “moraria” era onde estavam concentrados os pijos e pijas da cidade, ou seja, um bairro nobre. Fiquei surpresa quando vi minha “casa”: um edifício de cinco andares muy chulo, como dizem os espanhóis. Minha hermanita mayor estava me acompanhando e teve o mesmo susto que eu quando a porta do meu “apartamento” foi aberta por uma figura bastante pálida, de cabelos ruivos, óculos e roupa estranhos (não consigo defini-los). Passadas as apresentações, começaram os momentos de perturbações.

Antes de, realmente entrar na casa, existia um vão, onde eram colocados os casacos e sapatos. Isso, sapatos! Um par de pantufas bem graciosas já estava a minha espera. Então, pensei: “Estou mesmo na Espanha ou em algum país oriental e não percebi?”. Lá vai eu tirar meu tênis e por as pantufas, porque não podia entrar com “sapatos da rua”. Estava carregando duas malas (uma maior e outra pequena) e não podia arrastá-las pela casa. Era necessário carregá-las para não arranhar o piso de madeira que dominava todo o apartamento, pois estava impecavelmente encerado. Também, de hipótese alguma, podia aconchegar as malas no chão. Mari logo providenciou uns plásticos que pôs em cima da minha cama e, ali, desfazia ambas, para, em seguida, serem guardadas no porão.

Até ai, tudo bem. O negócio começou a esquentar quando Mari me apresentou as regras da casa, eram mais de 15, que me recordo. Estavam escritas em um papel plastificado em cima da mesa. Ela me pediu para ler atentamente. Até hoje, estou mal por não ter tirado uma foto e guardado. Eram coisas que iam desde o óbvio ao surreal. Não comer ou beber no quarto, nem sair de toalha pela casa após o banho. Ok! Agora, tomar banho apenas uma vez ao dia, repito UMA vez ao dia... Isso foi demais para mim! Fui logo indagando, mas a resposta de Mari foi de imediato:

- Moramos num país onde passamos por muita seca no verão. Precisamos economizar água! Se você precisar, pode utilizar a pia para lavar o rosto, os braços e as axilas.

Oi, como assim? Expliquei a ela sobre o nosso costume de, pelo menos, dois banhos ao dia, mas ela não entendeu. E acho que ela não sabe o que é, realmente, seca, mas, enfim... Precisei dar um “jeitinho brasileiro” nessa história de banho. Por uma questão de hábito, fiquei tomando o meu precioso e único banho pela manhã e fazia o esquema do tal “banho de gato” antes de dormir. Ainda bem que o fim do inverno europeu não me deixava suar durante todo o dia. Uma vez, que fui até em casa guardar umas coisas antes de fazer turismo, Mari não estava. E essa cena se repetiu por mais dois, três dias seguidos no mesmo horário. Pronto, essa foi minha deixa para tomar banho escondido.

É, podem rir, mas era isso mesmo. Ainda tinha mais, fingia que tomava o “banho de gato” quando ela estava em casa. Fazia mais isso quando saia de noite, porque salir de marcha pelas ruas de Madri sem tomar banho era o fim. Diante dessa história toda, estava quase me convencendo de que os madrileños tinham, de fato, algum regime de economia do uso da água. Foi quando eu contei minha história para um amigo espanhol. Ele só fez rir e disse:

- Essa mulher é perturbada, porque não tem nada disso aqui. Eu, por exemplo, tomo banho, pelo menos, duas vezes ao dia ou quando bem quiser.

Foi quando percebi que estava na casa de uma louca, que tinha síndrome de limpeza, mas não gostava de tomar banho. No próximo post, contarei mais sobre Mari, pois minha convivência com ela merece e deve ser registrada!

1 comentários:

Rapha Aretakis on 15 de abril de 2010 às 15:04 disse...

Chica, me lembro quando tu me contou essa história na aula, rolei de rir! A mulher é doidinha, coitada! hahahahhahah muito bom!

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