22 de abril de 2010

Uma louca em minha vida espanhola II

Depois de apresentar Mari – proprietária da casa que fiquei durante um mês em Madri -, no post anterior, começo este já contando os episódios mais marcantes dos tantos que passei naquele piso. Parar salir de marcha, era sempre uma novela, pois precisava destrancar a porta da sala, ir para o vão, trancar a porta, tirar e guardar as pantufas, pegar os sapatos que ficavam em um pequeno armário, calçá-los, colocar o casaco, abrir a porta externa e trancá-la ao sair. Esse mesmo esquema se repetia, no sentido contrário, quando chegava da rua. Tudo isso a pedido de Mari. Tinha que seguir esse padrão para que não nos esqueçamos de nenhum detalhe.

E como detesto seguir esses tiques nervosos e perturbadores, lógico que tinha de passar por momentos muito toscos. Um foi quando estava terminando de calçar meu All Star preto de cano alto, cheio de cadarços, (lembrem-se do esquema relatado acima) descubro que esqueci meu cachecol. O medo do frio falou mais alto e tive que “voltar metade da fita” para pegá-lo lá no quarto. Fiz isso xingando deus e o mundo em português, claro! Outro foi quando estava já descendo as escadas e lembrei que tinha esquecido de pegar o meu mapa. Crente que já estava ambientada na cidade e com preguiça de “voltar a fita toda”, deixei para lá e, nas minhas andanças, fui parar no bairro mais barra pesada de Madri. Ê, beleza!

Ah, também teve o dia em que eu entrei no quarto de Mari. Sim, isso foi algo extraordinário, pois apenas a cozinha, o banheiro social e os quartos das hóspedes (a casa só recebia chicas) ficavam abertos. Revoltada por não conseguir uma doméstica que saiba fazer limpeza em seu piso “adequadamente”, resolveu fazer ela mesma. Gente, ela desmontou a cama para limpar todo o quarto! Foi algo assustador quando ela me chamou para ajudá-la a remontar a cama. Fiquei parada na porta do quarto dela, por alguns segundos, tentando entender aquela situação.

Sim, ainda tive a oportunidade de conhecer a sala, graças a uma das chicas americanas hospedadas que recebeu, na casa, a visita do irmão e amigos que por ali passavam. Digo isso porque a bendita da sala vivia trancada. O espaço era enorme com um monte de cacarecos antigos, mas bonito. Uma típica sala de vó! Até hoje, gostaria de entender como uma pessoa abre as portas da sua casa para estranhos, porém não abre todas as portas da casa. Vai entender... E quando ela cozinhava? Fechava a porta da cozinha para a casa não ficar fedendo a comida. Oxe, quem deixasse a porta aberta ou entrasse e saisse com frequência levava a maior bronca!

Bom, no fim das contas, Mari não era uma pessoa ruim, apenas diferente de todos os españoles que conheci (não foram muitos): meio perturbada e louquinha com seus tiques nervosos e suas filosofias malucas. Apesar da recepção tosca e diferente que recebi, agradeci sua hospedagem lhe dando um pequeno caminho de mesa rendado. Ela ficou enlouquecida com o presente e logo o juntou aos outros antigos cacarecos que estavam na entrada da casa. Espero que ele esteja ainda por lá, até porque custou uma nota! Rs...

1 comentários:

Rapha Aretakis on 22 de abril de 2010 às 22:18 disse...

Chica, tu passou muito perrengue com essa doida! Se eu passar um terço disso, acho que choro pedindo minha mãe, digo logo! hahahhahahaha sou frôxadimai!

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